quarta-feira, dezembro 28, 2005

Seres Escrotos

Era uma senhora extremamente recatada e guardiã dos bons princípios e da moral. Ao menos era assim que pretendia se mostrar aos da vizinhança e do seu convívio em geral.
Em nome do que julgava correto era capaz dos mais disparatados extremos, como por exemplo, escrever uma carta anônima questionando a integridade de uma vizinha por tê-la visto com o padre tomando cerveja na barraquinha do churrasco com vinagrete durante a quermesse de Nossa Senhora Francisca de Coitadela. Ou ainda trancar o fila de 1 m no lavabo a fim de que o mesmo não tomasse os chuviscos que porventura o vento poderia soprar através da varanda onde ele dormia.
Não saía de casa após as 20h30, a menos que fosse para ir a algum culto ecumênico, às aulas de mandarim ou para vigiar alguém.
O que ninguém sabia era que, quando mais moça, fornicava com a filha do vendedor de grama, vendia lança-perfume em vidros de antibiótico e guardava sob a penteadeira do quarto um legítimo Capa Preta de São Cipriano, de cujos encantamentos se serviu várias vezes, inclusive uma em que, rejeitada por seus dotes físicos e intelectuais, fez ficar careca o dono da botica.
Sua vida de maldades só teve fim quando, após uma tentativa frustrada de bolinação por cima da batina, foi acusada de assédio sexual pelo padre da paróquia que era gay e considerava como inaceitável este tipo de intimidades com as beatas de sua comunidade.

Seres sem Noção

Era o que, carinhosamente, chamaremos aqui de “uma pessoa fraca de feição”.
Viúva há alguns anos e com um fogo completamente fora de contexto para suas limitações etárias e hormonais, viu-se seguida dia após dia, durante uma semana, por um cinqüentão num Maverick vermelho molho de tomate aguado da Quero.
Na primeira segunda-feira subseqüente, rebolando em sua calça mais justa a grande raba que portava, não se agüentou mais e aceitou a carona até a sua casa, posto que contou depois, extasiada, às colegas de trabalho:
- De fora do carro eu vi que ele estava com a pemba dura que mais parecia uma batata doce. Quando chegou no apartamento não falou nada, já foi tirando a roupa e foi direto pro banheiro tomar banho. Eu, como gosto de homem limpinho, achei muito bom e me limpei com uma toalhinha no tanque mesmo. Ainda bem que eu tinha feito escova dois dias antes porque ele me catou pelos cabelos e me chupou todinha. Mas com todo o respeito.

sábado, dezembro 24, 2005

Harry Potter e o Fumo Sagrado

Era uma vez uma menina. Era muito amiga de duas amigas.Eram, portanto, três amigas. Mas essa menina-amiga em destaque cortou-lhes o coração quando começou a namorar um menino que atendia pelo nome de Harry Potter Salvador.
Esse menino apareceu como que por magia, fato que lhes pareceu óbvio mais tarde, e por bruxaria (única explicação plausível) roubou o coração da amiga-menina. Era um rapaz de figura antipática e de intelecto bestial. Às vezes tentava agradá-las com soquinhos em suas barrigas, tapinhas em suas costas, ou comentários vazios a respeito do nada. Fato que as deixava mais esgotadas e desesperançadas com relação à amiga, esta durante todo o tempo era vista sorrindo e babando enquanto olhava para seu infante namorado.
Em uma bela e azulada tarde, Harry Potter e sua magia negra bateram à casa de Amiga II, a qual desavisada abriu a porta sorrindo e em seguida engasgando com seu próprio arrependimento, pensou “Essa minha maldita mania de abrir portas em tardes ensolaradas”.
- Oi, eu trouxe maconha, vamos fumar?-Disse cerrando os olhos com tanta malícia de usuário que lembrou um pato beirando a morte.
Amiga II suspirou com desgosto, baixou os olhos e deixou o menino entrar, devia ser mais uma de suas tentativas de aproximação e aceitação ao círculo social da namorada. Harry Potter não perdeu tempo, mal entrou na sala e já colocou na mesa de marfim e puro gesso da Flórida, um engodo de fumo ensacado com má vontade e plástico preto, abriu e mostrou à Amiga II como se fosse uma espécie de cálice sagrado que conseguira durante uma guerra qualquer hollywoodiana. Juntou aquele cafofo nas mãos e disse com trejeitos de um suíno refinado:
- Cheire!
Amiga II, sem muita opção, cheirou o fumo e antes que pudesse dar seu duro e seco veredicto ouviu desfiar da maldita boca de Harry, palavras em tom de prepotência e sapiência suprema:
- Isso aqui, querida, é maconha da pura, curtida no mel das abelhas abençoadas pelas freiras descalças e carmelitas do cume do morro do convento ao leste de Roma.- E por pura magia, sem retomar fôlego prosseguiu.- Aromatizada pelas rosas jamaicanas pisadas pelos pés de Bob Marley, durante uma dançadinha dominical.
- Cala boca, menino! Isso aqui é fumo de corda!- Vociferou a Amiga II, enquanto segurava com o braço esquerdo o direito para não tacar aquele moquifo no rosto do Enunciado Harry Potter Salvador.
Harry Potter ofendidíssimo e com sua auto-estima arrastando nos pés, sacou do bolso seu cajado mágico e antes que os olhos matreiros da Amiga II pudessem alcançar tal movimento, ele transformou o fumo de corda em maconha preta.Sorriu satisfeito à menina que com desleixo deu de ombros, foi até a cozinha, voltou com um jarro de creolina e disse sem ânimo:
- Tá, transforme isso em vinho tinto francês... E fume essa macumba lá fora.
Foi esse fato dado como o Primeiro Milagre Miraculoso e Mirabolante do Maconheirinho Harry Potter Messias. Todos que souberam disseram oh.



quinta-feira, dezembro 08, 2005

Nojo é jogar a mãe pra cima, Estocolmo!

Estocolmo é um garoto comunicativo, gosta de gatos e prefere as músicas do lado B. Foi então, numa daquelas reuniões de amigos intelectualmente interessantes que Estocolmo contou em tom de escárnio malevolente:

- A Vilma... oh, uma menina tão bonita, inteligente, gosta de cigarros de filtro branco e limpa seus óculos só com desengordurante, vejam só, amigos, fez, vergonhosamente xixi na rua, outro dia. Voltávamos de uma festa de música alternativa, onde ela bebericou álcool com muita vontade, no meio do caminho sua bexiga apertou e sem escrúpulos abaixou-se onde estava (uma calçada!) e fez ali mesmo- Nesse instante, Estocolmo fez aquela cara de asco que lhe é comum em momentos de aperto- Pasmei... não imaginei que seria capaz de tal ato repugnante e civicamente negativo.

Oras, venhamos e convenhamos nesse seu preconceito descabido, Estocolmo, não se esqueça que quando a bexiga aperta, a vergonha afrouxa! Também eu, sua amiga e que compartilho de suas rodas de conversas entusiasmadas, lúdicas e inteligentíssimas fiz, faço e farei xixi na rua quando necessário! E no mais imaginaste que só aos homens foi dado o dom da urina pública? Pasmaceira!

terça-feira, dezembro 06, 2005

Com o intuito de estimular a capacidade criativa, noções de ciência e desenvolvimento sadio da curiosidade, a Casa da Caralha inicia, com a postagem deste, a campanha "doe um termômetro a uma criança".
Sendo uma campanha de âmbito nacional, nossa empreitada visa, através do lúdico, estimular a capacidade destrutivo-criadora-abstracionista de nossas crianças.
A Casa da Caralha Produções Inc., julga ser imprescindível para um desenvolvimento cognitivo saudável de nossos rebentos, a prática regular da quebra dos medidores de temperatura. A julgar por esta premissa, estaremos enviando juntamente com as assinaturas de apoio e desejos de bons auspícios, uma petição aos senhores ministros da Educação e da Cultura, petição esta cujo princípio básico seja o de ofertar aos estudantes do primeiro ciclo no ensino fundamental, juntamente aos livros didáticos, termômetros que serão arremessados ao chão e formarão maravilhas aglomerativas e brilhantes, pequenos sonhos na forma de mercúrio que se dissiparão e se conglomerarão novamente num ciclo infindo (ou até que algum adulto o dissipe), estimulando, desta forma, a capacidade inominável de "ver a beleza onde aparentemente não há nada". Ou "apenas caos". Ou de "sorrir à-toa quando as ruínas se acumulam ao seu redor". Ou mesmo de "brincar com o que parece sério mas é, no fundo, no fundo, apenas a beleza imperceptível e indiscutivelmente simples da vida".

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Jardim de couve-flor

A moça bem vestida, bonita e aparentemente normal entra no bar... Pára defronte o balcão e fixa-se no atendente, que responde com um olhar atencioso e alegre, sorri e diz suas vinte e nove últimas palavras do dia, que foram: “Acho que te conheço, não me lembro bem... Ah! Quanto tempo não nos vemos, uns 10 anos?! Desde a segunda quinzena quente de fevereiro de 1995?” – A moça atravessa o bar atrevidamente decidida, sobe no palco de alvenaria, arranca com dedos longos o microfone do cantor que balbucia um Smiths e olhando para o pasmado balconista diz:
- Seu filho da puta! - nesse momento ela levanta a saia e mostra seu bizarro órgão genital que mantém movimentos involuntários e lesos.- Está vendo isso aqui, seu cuzão? Isso aqui não é uma couve-flor escurecida, não! Isso aqui é minha vagina! Minha vagina! Minha vagina!
O Rapazote do balcão engasga, sendo caucasiano, por descrição própria orkutiana, fica tão vermelho que para os clientes próximos causa um misto de pena e vontade incontrolável de bater-lhe nas orelhas. O dono do recinto olha para a nobre e dorida mocinha com pena e vontade de arrancar-lhe as entranhas e para o funcionário carmesim com tanto ódio que só pensa em estragar seu novo frasco de perfume enfiando-lhe no seu canto oco.
A moça ajeita a saia, subindo-lhe um pouco mais até quase alcançar a cintura, puxa o cabo do microfone e o segura como um grande cantor de pop-rock e grita mais essas, só que dirigindo suas palavras aos freqüentadores entusiastas do local:
- Quando esse vagabundo, filho de uma rampeira, me abandonou, há 10 anos atrás, eu caí na bebedeira, enfiei meu rabo nas drogas e dei, pra afastar minha tristeza, a todos os homens dessa Província convidativa... Eu dava com gosto... a cada transa sensual uma lágrima caía, oferecida a esse cachorro covarde- Virando-se abruptamente ao balconista semi-enfartado continua- E hoje me diz com essa voz rouca e gostosinha “Acho que te conheço, não me lembro bem... Ah! Quanto tempo não nos vemos, uns 10 anos?”- Remedou com desdém o Pobre Enfartado.- Vai tomar no teu cu! No teu, no teu... Porque o meu já tomou por 10 anos, Vadio Lazarento!
Nesse tenso instante, atravessando os morenos que ritmados batiam palmas no salão, adentram três homens de branco, agarram as mãos da moça que aparentava um pouco de desequilíbrio, talvez pela emoção do reencontro, pedem com olhar de charminho ao músico que continue a tocar Smiths e a arrastam para fora da lanchonete-bar. Depois de oito dias chega aos freqüentadores a notícia de que a mocinha passava bem, estava numa clínica de recuperação para moças e mulheres solteiras ou casadas, menos viúvas, com hortaliças brotantes entre seus membros.
Sabe-se com certeza de uma fonte segura que o rapaz caucasiano tentou visitá-la, sendo impedido de entrar por denunciar-se vegetariano e apreciador de couve-flor e seus derivados.