segunda-feira, dezembro 05, 2005

Jardim de couve-flor

A moça bem vestida, bonita e aparentemente normal entra no bar... Pára defronte o balcão e fixa-se no atendente, que responde com um olhar atencioso e alegre, sorri e diz suas vinte e nove últimas palavras do dia, que foram: “Acho que te conheço, não me lembro bem... Ah! Quanto tempo não nos vemos, uns 10 anos?! Desde a segunda quinzena quente de fevereiro de 1995?” – A moça atravessa o bar atrevidamente decidida, sobe no palco de alvenaria, arranca com dedos longos o microfone do cantor que balbucia um Smiths e olhando para o pasmado balconista diz:
- Seu filho da puta! - nesse momento ela levanta a saia e mostra seu bizarro órgão genital que mantém movimentos involuntários e lesos.- Está vendo isso aqui, seu cuzão? Isso aqui não é uma couve-flor escurecida, não! Isso aqui é minha vagina! Minha vagina! Minha vagina!
O Rapazote do balcão engasga, sendo caucasiano, por descrição própria orkutiana, fica tão vermelho que para os clientes próximos causa um misto de pena e vontade incontrolável de bater-lhe nas orelhas. O dono do recinto olha para a nobre e dorida mocinha com pena e vontade de arrancar-lhe as entranhas e para o funcionário carmesim com tanto ódio que só pensa em estragar seu novo frasco de perfume enfiando-lhe no seu canto oco.
A moça ajeita a saia, subindo-lhe um pouco mais até quase alcançar a cintura, puxa o cabo do microfone e o segura como um grande cantor de pop-rock e grita mais essas, só que dirigindo suas palavras aos freqüentadores entusiastas do local:
- Quando esse vagabundo, filho de uma rampeira, me abandonou, há 10 anos atrás, eu caí na bebedeira, enfiei meu rabo nas drogas e dei, pra afastar minha tristeza, a todos os homens dessa Província convidativa... Eu dava com gosto... a cada transa sensual uma lágrima caía, oferecida a esse cachorro covarde- Virando-se abruptamente ao balconista semi-enfartado continua- E hoje me diz com essa voz rouca e gostosinha “Acho que te conheço, não me lembro bem... Ah! Quanto tempo não nos vemos, uns 10 anos?”- Remedou com desdém o Pobre Enfartado.- Vai tomar no teu cu! No teu, no teu... Porque o meu já tomou por 10 anos, Vadio Lazarento!
Nesse tenso instante, atravessando os morenos que ritmados batiam palmas no salão, adentram três homens de branco, agarram as mãos da moça que aparentava um pouco de desequilíbrio, talvez pela emoção do reencontro, pedem com olhar de charminho ao músico que continue a tocar Smiths e a arrastam para fora da lanchonete-bar. Depois de oito dias chega aos freqüentadores a notícia de que a mocinha passava bem, estava numa clínica de recuperação para moças e mulheres solteiras ou casadas, menos viúvas, com hortaliças brotantes entre seus membros.
Sabe-se com certeza de uma fonte segura que o rapaz caucasiano tentou visitá-la, sendo impedido de entrar por denunciar-se vegetariano e apreciador de couve-flor e seus derivados.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tudo isso regado à muito Carcass e vinho vagabundo!

Anônimo disse...

Nossa, Gurias...
Esse jah consta no Top 5
D'a Casa.
Ao ler essa pérola numa de minhas
madrugadas insônomas (Mesmo me engasgando diversas veses com o suco de carambola q tomava no momento)me divertí ao nível de ter que Mostrar o conto à uma amiga com quem conversava no MSN.
Depois de ler e tb achar hilário ela me perguntou se era eu o cara q cantava Smiths...
-Não Carol, eu era o Balconista
Hahahahaha!!!

Bjs

INTENSIDADE
MIXEL...